Para além dos sonhos — parte final


 A neve estava caindo bem aos poucos, e logo iria desaparecer. Eu amava dias assim. Quando cheguei aqui, uma das coisas que tanto queria ver, era a neve. Eu nunca havia visto, e quando aconteceu, dei pulos de alegria. Era algo inexplicável. Eu olhava para o céu, e analisava como os flocos de neve caiam de forma leve e ao mesmo tempo causavam algo forte, assim que se juntavam aos outros flocos. Quando esses dias chegavam, eu gostava de ficar debaixo do cobertor, lendo e tomando um chocolate quente. Às vezes, assistindo a alguma série. Eu gostava de saber que tudo aquilo não era apenas coisa da minha cabeça. Era tudo muito real.
 Os sonhos são muito mais do que meras imaginações.
 Assim que chego ao Central Park, limpo o banco coberto de neve, e me sento. Era como se tudo que eu estivesse vivendo, fosse um déjà vu. Não consegui acreditar, quando olhei para o outro lado do parque, e avistei um homem alto. Senti o olhar dele  em minha direção, e tentei não olhá-lo por muito tempo. Será que era ele? Quando olho novamente, vejo que ele está se aproximando. "E agora?" — deixo escapulir meus pensamentos. Ele para ao meu lado e... meu Deus! Tinha que ser ele! Olhos castanhos, sorriso de canto, expressão suave... tão lindo quanto imaginei. 
"Posso me sentar ao seu lado?" 
E, que voz! Ahhh...
"Pode, claro" — respondi apressadamente. 
"Prazer, meu nome é Jake."
Ah... não era ele. Mas parecia tanto...
"Que foi?" — ele me perguntou, e senti minhas bochechas rosarem.
"Desculpe, prazer" — disse meu nome a ele, e... ele era tão lindo! Parecia ser apenas um pouco mais velho do que eu. E quando eu o olhava, algo me dizia que eu ainda encontraria Antônio.
"Têm dias que a vejo por aqui. Mas só tomei coragem de vir falar com você, agora" — senti seus olhos nos meus, e por um momento me senti presa a eles. Por que ele me viu antes e só hoje veio falar comigo?
"É mesmo? Por que não falou antes? Confesso que nunca te vi por aqui."
E não tinha visto mesmo. Não costumo analisar muito quem está ao meu redor. Talvez seja por isso que eu esteja sozinha até hoje. Até hoje, pensei, e senti meu coração aquecer meu corpo.
"Percebi. Todas as vezes que olhei para você, você estava lendo algum livro diferente. Não queria incomodar. Mas, hoje percebi que estava sem algo para ler, e resolvi me aproximar."
Fazia sentido. Eu sempre gostei muito de ler, e até mesmo de escrever. Sonhava em ter uma livraria e publicar meus próprios livros.
"Faz sentido. E você? Costuma fazer o que quando está por aqui?"
"Costumo olhar para você" — ele sorri — "e também costumo ouvir música."
Ele sabia como fazer uma garota sorrir.
"Que tipo de música?" 
"Não deve ser o seu tipo. Gosto de rock."
Não deve ser o meu tipo? Qual tipo ele achava que era o meu?
"Está enganado, Jake. Gosto de rock. Principalmente, de Guns N' Roses. E, confesso que fiquei intrigada. Qual tipo de música você acha que faz o meu tipo?"
"Guns N' Roses? Então... uma das bandas que eu não curto muito" — encarei-o sem acreditar — "e parece que você curte mais aquelas músicas estranhas, tipo Justin Bieber." 
Ele acertou, embora eu não achasse que fossem estranhas.
"Sim. Eu gosto de Justin Bieber. Sou bastante eclética. Não vejo mal nenhum nisso."
"Acho melhor a gente mudar de assunto. Sinto sua raiva pulsando em suas veias" — ele deu uma gargalhada bem alta. E mesmo que eu tivesse sentido uma pitada de raiva, não me contive, e ri junto com ele. 
 Em tão pouco tempo, ele havia feito eu me sentir tão bem. Uma mistura de inquietação com leveza. Deu para ver que ele era daquele tipo que deixava você confuso, e, ao mesmo tempo, respondia todas as suas dúvidas. Mesmo que ele não se chamasse pelo nome que eu esperava, eu sabia que a realidade nos trazia surpresas diferentes das que pensamos, na maioria das vezes. 
 Passamos o fim da tarde e o início da noite conversando sobre nossos gostos. Sobre nossos sonhos. Descobri que a cor favorita dele era preto. Descobri que ele amava histórias de super-heróis, e que achava que era o Batman. "I'm Batman",  ele repetia, fazendo uma voz tão grossa quanto a dele. Eu sabia que eu gostaria de conhecê-lo todos os dias, um pouco mais. E, por incrível que pareça, eu sabia que ele também sentia o mesmo por mim. 
 Ele se ofereceu para me levar em casa, e eu aceitei. Quando chegamos ao meu portão, eu já sabia o que ia acontecer. Ele era o meu Antônio. Ele se aproximou de mim, e me puxou para mais perto dele. Senti seus braços me envolverem e o abracei. Eu já havia sentido isso antes — pensei. Quando nos afastamos, ele olhou para mim, mexeu em meus cabelos, e chegou mais perto, até nossas bocas se encontrarem. Era ele. Eu sei que era.
 O silêncio foi quebrado.
"Quero te ver mais vezes" — disse ele, enquanto se despedia.
Assenti e entrei. 
Passei a madrugada pensando que o sonho que eu tive antes de viajar, tinha sido um aviso. Os sonhos podem se tornar realidade, e, se eu não tivesse tomado uma atitude, nada disso estaria acontecendo.

 Os dias se passaram, e não houve um dia em não tivéssemos nos visto. Visitamos a Estátua da Liberdade. Fomos a lugares que eu nunca iria ter conhecido, se não fosse por ele. Eram tão lindos quanto os lugares que eram mais frequentados. Eu estava apaixonada por aquele país. E, eu estava apaixonada por ele também. Jake.
 Numa sexta-feira à tarde, recebo uma ligação inesperada. Era a minha mãe.
"Filha? Tenho uma novidade para você."
Eu estava com tanta saudade daquela voz.
"Qual novidade, mãe? Não me deixa curiosa!"
"Eu e seu pai vamos te visitar esse final de semana. Estamos com muita saudade e queremos te ver."
"Não acredito!!! Venham! Não vejo a hora de ver vocês."
Não poderia ter recebido notícia melhor. 
"E você e o Jake? Como estão? Quero conhecê-lo logo!"
"Estamos bem, mãe. Descobri que o nome dele é duplo."
"Duplo? E qual é o segundo nome?"
"Na verdade, é o primeiro. E ele não gostava muito, até eu contar meu sonho para ele" — sorri e esperei que ela entendesse.
"Espera! Antônio? Antônio Jake? Como isso é possível?"
Contei para a minha mãe sobre o sonho, logo depois que estava tudo pronto para eu viajar.
"Por mais que ele seja americano, os pais dele são brasileiros, e quiseram homenagear o avô, por parte de pai, de Jake."
"Minha filha... tudo o que você sonhou, se realizou. Eu não sei nem o que dizer."
Ah, nem tudo, mãe. Ainda havia sonhos que eu carregava comigo, que estavam esperando para serem realizados.
"Até mais, mãe. Aqui, conversamos melhor. Te amo."
"Também te amo, meu anjo."

 No dia seguinte, meus pais chegaram e tê-los aqui, perto de mim, era uma das melhores coisas que eu poderia ter. Eles gostaram muito de Jake, e vice-versa. Quando chegou o dia deles irem embora, não contive meu choro. A vida têm dessas coisas. Nem tudo que está reservado para nós, inclui pessoas que sempre estiveram ao nosso lado. Eu sei que eles estariam sempre comigo, mesmo que de longe. Mas eu também sabia, que eu havia crescido, e nada poderia ser igual a antes. Eu tinha mais responsabilidades. Eu tinha coisas para viver, para descobrir, para conquistar. O amor independe do tempo e da distância. Ele continua ali, sendo o que ele nasceu para ser: amor. O meu amor por eles permaneceria para sempre. E o amor deles por mim também. 
 Os anos foram se passando. Eu realizei meu sonho de abrir uma livraria, que se chamava "Remember Reading". Eu também havia realizado meu sonho de escrever um livro — "Para além dos sonhos", foi intitulado. Eu sabia falar de muitas coisas, mas, nada melhor do que falar sobre coisas que eu havia vivido, e gostaria de continuar vivendo. Todo dia recebia uma quantidade incrível de clientes, e todos ficavam super satisfeitos. Jake trabalhava junto comigo, e compartilhava cada conquista. Nas horas vagas, ele exercia sua profissão de alma: ser músico. Nós nos casamos no verão passado. Construímos uma vida juntos. Nossa casa, nosso trabalho, nossos sonhos. 
 A vida me mostrou, que os sonhos nunca acabam. Eles sempre se renovam. E cada vez que sonhamos algo diferente, temos que tomar uma atitude diferente. Tudo depende de um sorriso, de uma palavra, de um olhar. Arriscar — esse era o segredo. Sei que muitos outros sonhos seriam gerados dentro de mim. Mas, também sei que sempre os levaria a sério. Sempre fiz de tudo para que fossem realizados, e mesmo que eu não obtivesse sucesso em minhas tentativas, eu sabia que eu ao menos havia tentado. Eu me permitia ir além.
 Têm sonhos que não são sonhos. São apenas desejos momentâneos. Mas, os verdadeiros sonhos permanecem com o tempo, e nos motivam a vivermos uma vida repleta de coisas boas. 
 Até hoje não sei de quem era aquele livro que estava dentro daquela gaveta. Eu ainda o leio. Outro dia, me deparei com uma certa poesia:

"Sonhar é permitir.
Viver é sonhar.
Realizar é acreditar.
Acreditar é nunca desistir."

 A tal frase incentivadora, continua pairando por todos esses anos. "Você vai conseguir realizar grandes coisas, ainda esse ano." E, todo ano eu me permitia viver grandes coisas, mesmo que elas parecessem pequenas, a princípio. 
 A minha ida aos Estados Unidos mudou a minha vida. Eu pertencia a esse país, bem antes de por os pés aqui. Há um lugar certo para realizações. Todos têm o seu próprio lugar. O meu era aqui, ao lado de Jake. 
"Amor, você foi a melhor coisa que conquistei em minha vida" — Jake falou com um olhar pensativo — "eu te amo."
"Eu te amo... Antônio" — ele sorriu, e eu sabia que era ele. Eu sabia, desde o momento em que o vi em meus sonhos.


Autora: Suellen Marques.


 Sinopse: 





Comentários

  1. Fechou com chave de ouro Su! Amei de verdade! Vou adotar essa frase para a vida inteira também
    "Sonhar é permitir.
    Viver é sonhar.
    Realizar é acreditar.
    Acreditar é nunca desistir."

    Parabéns! <3

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  2. Não cheguei a ler as outras partes,pois caí no seu blog agora exatamente nesse post
    Maaaaas que história!!!
    O final foi incrivelmente lindo.
    Falar de sonhos sempre me faz bem,desistir?Jamais!
    Amei,beijos ♥
    http://saracastelloni.blogspot.com.br/

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  3. Amei o final, fui ler a primeira parte e fiquei encantada. Beijocas

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  4. Que texto mais adorável! Muito gostoso de ler, nem vi o tempo passar, consegui até me imaginar em um parque cercada por neve *-*
    Parabéns pelo texto!

    ps: O seu layout é lindinho mas o tamanho da font é muito pequeno comparado com a largura total do layout, aí fica um pouco difícil de ler :/

    Epílogo em Branco

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  5. A história está muito bonita. Continua assim, escreve e le muito, que a tua escrita ficara óptima. Beijo bom.

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  6. Fui começar a ler e fiquei encantada *-* parabéns pelo talento! Fechou essa história com chave de ouro, e essa frase no final ficou perfeita <3 até fotografei hehe.

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  7. Gostei da história, bem bacana! Você escreve muito bem! Bem envolvente!

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  8. Que história linda, fiquei apaixonada! Continue escrevendo, que arraso!
    Amei essa parte:
    "Sonhar é permitir.
    Viver é sonhar.
    Realizar é acreditar.
    Acreditar é nunca desistir."

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  9. Olá! Nossa, que relato lindo. Era apenas um sonho, mas isso é muito bom. Fantasiar é sonhar, é o que nos dá esperança, então nunca deixe de sonhar e de seguir rumo a este sonho. Abraços e sucesso!

    www.pandapixels.com.br

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  10. Que lindo esse texto! O amor acontece de forma tão inesperada né? Esse texto daria um filme hahaha você escreve muito bem, parabéns!
    Beijos, Gi.
    Blog About Girls

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  11. Que bela história, Suellen. Incrível como as coisas acontecem tão perfeitas na nossa cabeça, é uma parte legal porque é nela que conseguimos alcançar qualquer coisa e é isso que deveríamos ser também, uma garota sonhadora.

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  12. Adorei a continuação. Já tinha lido uma parte e me encantei. Você escreve muito bem e consegue transportar as pessoas para sua história. Quero tirar a neve do banco no Central Park e sentar, hahah
    Beijo!

    Sorriso Espontâneo

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  13. Oi, Suellen!
    Adorei ler o desfecho desse enredo. Quem não sonha com um Antônio em sua vida, mas não cria nenhuma oportunidade de encontrá-lo? Você mostrou bem, quem não se arrisca também não pode reclamar de seu destino.
    Você escreve muito bem, adorarei ler outros contos.

    Beijos!
    Gatita&Cia.

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  14. Haa, amei <3 Já tinha lido as outras partes, terminou bem ! Gosto do seu jeito de escrever *-* Vou adotar essa frase para mim "Você vai conseguir realizar grandes coisas, ainda esse ano". Ela é realmente incentivadora. Muito lindo, amei ^^

    www.soltavoz.com

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  15. Correndo para ler as outras partes, pois essa está simplesmente incrivel. O amor é um coisa incrivel, e quem não deseja um Antonio pra si hein? rs deixei seu post para ler agora pois queria ler com paciência para saborear o texto e digo com toda a certeza que não me arrependi!

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  16. Mas que história linda. Menina continue escrevendo, já estou correndo para ler os textos anteriores, já estou super curiosa.
    Beijos

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  17. Olá, tudo bem? Acompanhei a história desde a primeira e confesso que gostei muito de como terminou. Acredito que somos sim capazes de realizar nossos sonhos, independente se eles são grandes ou pequenos aos olhos de outras pessoas, o que importa é que pra nós é importante e vale a pena. Você escreve muito bem, parabéns! Beijos, Érika ^.^

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  18. Oi Su
    Já venho acompanhando seus posts e cada vez vem me surpreendendo mais<3 Você escreve muito bem, continue assim e espero ler mais e mais posts como esse. Você concluiu com chave de ouro <3

    Beijos <3

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  19. Comecei a ler, mas pensando bem, vou lá começar da primeira parte haha! Tá maravilhoso! A sua escrita é muito boa, tem futuro! Amei!

    Bjos, Marinspira <3

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